sexta-feira, 8 de maio de 2009

CENTROS COMERCIAIS DO IMPOSTO E DA SAÚDE

CÃO: Viste a reportagem? Fiquei impressionado com a quantidade de gente que foi, quase de madrugada, para o novo Centro Comercial a ser inaugurado perto de Amadora.
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Fazer o quê?

CÃO: Para que os primeiros 100 pudessem receber um cheque brinde.
PINCHA:
Então, os que chegaram depois dos primeiros 100 ficaram de fora ou regressaram a casa?

CÃO: Ficaram lá à espera que o Centro fosse inaugurado e abrisse.
PINCHA:
Para quê?

CÃO: Para o ver e fazer compras. E julgo que os donos do Centro Comercial estão com boas perspectivas de lucro.
PINCHA:
Se as pessoas vão gastar dinheiro, necessitavam de estar lá tão cedo?

CÃO: Foram à procura dos cheques para os primeiros 100 mas depois ficaram lá e vão «deixar algum».
PINCHA:
É uma boa ideia para o Ministro Teixeira dos Santos.

CÃO: Como?
PINCHA:
Se ele necessita de dinheiro dos impostos, pode aprender com os donos ou promotores deste Centro Comercial.

CÃO: Não compreendo.
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Os que foram ao Centro Comercial estiveram à espera de alguma vantagem. Os pagadores de impostos têm alguma? Especialmente os bons? Os 100 primeiros recebem algum prémio ou alguma coisa em troca? Todos, só têm despesas, a não ser os que não pagam.

CÃO: Esses conseguem ter a benesse de fugir ao fisco.
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Pois é. Os que pagam bem e sempre, não recebem coisa alguma: só têm despesas. Os que conseguem fugir ao fisco, não têm esse desperdício e podem ter o lucro de uma amnistia ou de uma prescrição. É saber aproveitar o furo. Se num Centro Comercial desviasses alguma coisa, terias os fiscais ou os «seguranças» «à perna» e irias rapidamente para a Polícia ou para Justiça, se necessário. Os prevaricadores, embora os haja também nos Centros Comerciais, não têm a vida muito facilitada.

CÃO: E como poderia fazer o Ministro das Finanças?
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Muito simplesmente. Se o Ministro aprendesse alguma coisa com esses Centros Comerciais, apresentaria o valor do imposto com um mês de antecedência, dando o benefício de uma redução aos que resolvessem pagar antes da data obrigatória, isto é, antes do prazo fixado pela lei. Os que pagassem dentro do prazo seriam taxados normalmente. Porém, os que se atrasassem teriam coimas cada vez mais avultadas à medida que o tempo fosse passando, sem possibilidades de entrar em prescrição ou amnistia. Para isso, os «seguranças» teriam de estar sempre alerta, vigilantes e «sem esquecimentos».

CÃO: Assim, para isto, não seriam necessários Directores-Gerais especiais mas sim bons «seguranças», devidamente treinados, remunerados e atentos. Os que não servissem iriam fazer outro trabalho. É assim que acontece na segurança dos supermercados.
PINCHA:
Deste modo, pela sua boa actuação deveriam receber o bónus dado aos «manda-chuvas».

CÃO: Achas isto possível?
PINCHA:
Porque não? Os cidadãos pagadores dos impostos são os mesmos que vão fazer as compras nos Centros Comerciais. Por este motivo, não se consegue imaginar que o comportamento seja diferente. Do mesmo modo, se estes conseguissem sair do Centro Comercial com a mercadoria, sem pagar, não tenho dúvidas que o seu número iria aumentar. É o que acontece com os impostos e com a relutância no seu pagamento, porque muitos conseguem fugir ao fisco e não ser punidos. Não é isso que acontece também com os bons condutores e cumpridores da lei, sem haver necessidade de pilaretes nos passeios nem passadeiras com sinais luminosos? Porém, os bons pagadores ficam sem qualquer vantagem e com vontade de imitar os outros, sempre que possam. Mas alguns «esquecem-se» dessa vontade enquanto os outros vão subindo na escala social, política e administrativa. Nunca reparaste nisso? Até podem fundar bancos!

CÃO: Já compreendi. Talvez seja por isso que o Ministro da Saúde mantém os Centros de Saúde onde os utentes vão de madrugada marcar a sua vez tal como fizeram os que se acumularam à porta do novo Centro Comercial perto de Amadora.
PINCHA:
Sabes que a nossa saúde é um bem ainda mais precioso do que os prémios que os Centros Comerciais possam dar.

CÃO: Já compreendi o mecanismo.
PINCHA:
Ainda bem. Senão, terias de comer muita papa Maizena para chegar aos calcanhares do Ministro da Saúde.

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