quinta-feira, 12 de março de 2009

«O CANTE DELAS»

CÃO: Viste hoje na televisão a reportagem sobre as cantadeiras de Castro Verde que tiveram de travar quase uma luta para conseguirem que os maridos as deixassem fazer parte de um grupo coral e pudessem ensaiar fora de casa?
PINCHA:
Vi com muito gosto. É triste mas é verdade! O pior de tudo é aceitar que isto se tenha passado apenas há trinta anos num Portugal mais democrático do que o democratíssimo Portugal de Salazar.

CÃO: No tempo dele as mulheres podiam votar?
PINCHA: É verdade. Já não me lembrava disso. E tirar cursos superiores era fácil?

CÃO: Pois é. Salazar deixou ouro mas não deixou nem instrução nem valores.
PINCHA:
Já sabes que lhe faltou o Quirino de Jesus quando mais era necessário.

CÃO: Dizes isso e achas que haverá esses valores nas terras que se vão desenvolvendo e que irão melhorar o seu nível de subsistência dentro de pouco tempo se tiverem capacidade de gerir, economizar, planear, distribuir e não «desviar»?
PINCHA:
Se é com os exemplos que Portugal lhes proporcionou durante a sua «acção civilizadora» talvez não exista outro senão o de «desviar». Contudo, parece-me que eles não adquiriram outros. A propósito, José Eduardo dos Santos é descendente de famílias muito ricas?

CÃO: Não sei, mas parece que a filha dele é. Mas mudando de assunto, qual a razão de não se ter «desenvolvido» esses países africanos durante a sábia e democrática governação de Salazar?
PINCHA:
Porque só a luta pela independência, causada pela falta desse desenvolvimento, obrigou a desenvolver esses países à pressa, «só para inglês ver».

CÃO: Se observares com atenção as reacções dos intervenientes no documentário feito por Joaquim Furtado e que está agora a ser exibido na RTP, podes avaliar que a maioria dos habitantes daquelas terras estariam com Portugal se tivessem, em tempo oportuno, apenas a autonomia que é dada às bananas da Madeira ou aos ananases dos Açores. Além disso, obviamente, seria necessário que as populações fossem devidamente instruídas e qualificadas para uma governação autónoma capaz, sem rivalidades e com patriotismo suficiente que ainda não existe em Portugal.
PINCHA:
E achas que isso seria fácil? Se calhar, foi por isso que Salazar preferiu manter todo o povo na espantosa ignorância em que se encontra: aparentemente letrado, mas essencialmente ignorante e avesso à democracia e à participação cívica activa na gestão do país. Basta apenas aquilo que se disse no início da nossa conversa acerca do «Cante Delas». Sem muitas iniciativas dessas em diversas facetas da vida, nada pode ser alterado.

CÃO:
Quando é que isto vai mudar?
PINCHA:
Só com as novas gerações e se os pais as educarem nesses valores que são indispensáveis. Muito mais do que ter benesses materiais e financeiras, torna-se imprescindível que existam valores morais, éticos e cívicos que se possam manter e continuar, com um combate permanente e eficaz ao laxismo, ao «facilitismo» e ao «aproveitadorismo» que parece ir alastrando em todos os quadrantes sociais.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ainda bem que as mulheres estão a ficar mais conscientes e a ocupar o seu verdadeiro papel, que não é igual mas sim equivalente ao do homem.
É isso que têm de transmitir aos filhos que ficam com elas a maior parte do tempo, especialmente na infância, evitando sujeições de masculinos ou femininos.