quinta-feira, 23 de outubro de 2008

AS AVALIAÇÕES

CÃO: Ouviste os Sindicatos falarem muito mal das avaliações de professores?
PINCHA:
Porquê?

CÃO: Não sei. Julgo que pode parecer desprestigiante e degradante para os professores.
PINCHA:
Discordo e garanto-te que um amigo meu, com mais de 70 anos, ainda quer ser informal e anonimamente avaliado pelos alunos.

CÃO: Ele não é maluco?
PINCHA:
Ao contrário, até é bem pensante. É uma pessoa segura que iniciou a sua carreira de docência aos 25 anos e continua a ajudar os alunos a aprenderem aquilo que desejam.

CÃO: Assim, podem não cumprir os programas.
PINCHA:
Não sei porquê. Os programas são uma espécie de «guias sonoras» que se colocam nas auto-estradas para os condutores se aperceberem que se estão a desviar. Dentro do programa estabelecido, os alunos sabem melhor do que ninguém aquilo que lhes interessa aprender mais e melhor. Ao professor cabe a missão de os ajudar nessa tarefa que nem sempre é fácil, tanto para os alunos como para muitos professores. Não é impondo conceitos e matérias que os alunos vão aprender se não tiverem interesse nisso. Ensinar sem aprender pode ser o ponto fulcral de muito insucesso escolar. E, em Portugal, é enorme!

CÃO: Como é que se há-de fazer?
PINCHA:
Se o professor é amigo e apoiante dos alunos e, logicamente, o mais «sabedor» naquela situação, compete a ele orientar e ajudar os alunos sem os violentar, menosprezar ou «ignorar». Se assim não for, o aluno pode ver os professores como capatazes do Ministério da Educação que cumprem o programa «debitando» pontual e rigorosamente a matéria como num controlo orçamental. Nem os gestores medianos serão tão «tansos». Os professores, ao contrário, terão de ser bons gestores das suas aulas.

CÃO: Queres dizer que não deve haver disciplina?
PINCHA:
Em vez de ser o meu amigo a falar, sou eu próprio que digo que a disciplina tem de se manter até em casa. Os pais têm de manter a disciplina e, para tal, não necessitam de ser rudes ou violentos e ir contra todas as vontades dos filhos. Às vezes, terão de ser capazes de os convencer que os seus desejos não são aceitáveis. E, por acaso, talvez com pais incapazes de «educar» os filhos, possa situar-se algum mal-estar que se verifica em algumas escolas em que os alunos se revoltam contra alguns professores, porque aprenderam com os pais, em casa, a serem mal-educados. Outras vezes, podem revoltar-se, com razão, contra a incompetência e prepotência de professores que estão a dar aulas só porque têm as credenciais profissionais em ordem.

CÃO: Se têm as credenciais, já viste que tenho razão?
PINCHA:
Em que? Como vais erradicar das escolas os professores que são incompetentes e mal-educados nas aulas? Quem fará esta verificação? Só por terem sido nomeados professores, este estatuto dá-lhes o direito de serem prepotentes? Nunca soubeste de professores que entram nas aulas e, depois de se sentarem, põem os pés (se dissesse patas, ofenderia os outros animais?) em cima da mesa à sua frente. Eu vi isso até numa universidade. E era professor de sociologia! Outros fumavam e não deixavam que os alunos fizessem o mesmo porque era proibido fumar nas aulas. E os maus exemplos que os professores dão com vários comportamentos? Como se vai controlar isso sem com uma avaliação honesta, sincera e objectiva?

CÃO: Querias que os alunos fumassem?
PINCHA:
Queria que ninguém fumasse porque faz mal à saúde do fumador mas, pior ainda, dos que são obrigados a fumar passivamente. Além disso, polui o ambiente. Também o cheiro é tão desagradável que se descobriram desodorizantes para isso. Existe o risco de incêndio!

CÃO: Assim estamos mal.
PINCHA:
Mal, porquê? Em todas as profissões e situações existem avaliações. Os consumidores avaliam os produtos que consomem e podem punir o produtor não os utilizando. Os contribuintes avaliam os impostos podendo negar o seu voto ao governante pior.

CÃO: Tu achas mesmo necessária a avaliação?
PINCHA:
Se o meu amigo não a conseguisse, ficaria aborrecidíssimo porque deixaria de ter uma «bengala» importante para poder dar as aulas ao seu gosto e ao dos alunos com quem tem mantido sempre uma relação de amizade e bom entendimento, com controlo da situação.

CÃO: Então, os sindicatos têm medo de «desproteger» os malandros e os oportunistas?
PINCHA:
Não sei. Quanto aos salários acho que têm razão. Pode ser que os mais competentes se virem para outras profissões menos mal remuneradas. E achas que nessas profissões não são obrigados a escrever cartas, ofícios, relatórios, actas e a preparar e conduzir reuniões? Mesmo que tenham tempo disponível para isso alguns professores acham que é uma tarefa «extra». Não será por incapacidade de adaptação ou incompetência dos mesmos? E os que fazem esse serviço não deverão ser mais bem avaliados? Qual o medo da avaliação? Porquê?

CÃO: Com vagas disponíveis para os menos vocacionados para professor, o que esperas?
PINCHA:
Espero o medo da descoberta da sua incompetência numa avaliação a sério e não tão ligeira como a actual, que seja passível de «descobrir a careca» de alguns que lá estão só para ganhar o seu. Mas, trata de ter cuidado. Não tens sindicato que te proteja das demarcações que, de vez em quando, ficam mal feitas nas tuas correrias levantando a perna onde não deves.

1 comentário:

Anónimo disse...

Quem tem medo das avaliações? Serão os professores de aviário que lá estão para «receberem» o seu ao fim do mês?
As avaliações actuais tem poucos parâmetros para avaliar e são muito limitadas em termos de avaliadores e das competências para lidar com os alunos.