quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

MORRER EM PAZ

CÃO: Até que afinal, Eluana conseguiu morrer sem mais entraves.
PINCHA:
Isso dizes tu. Já sabes a confusão que se gerou em Itália com a sua morte?

CÃO: Não sei porquê. As pessoas já não podem dizer e fazer aquilo que querem?
PINCHA:
Podem, desde que não seja contra a vontade de alguma maioria.

CÃO: Se fosse prejudicial para alguém, talvez conseguisse compreender, mas do modo como foi, nem consigo compreender a razão de Eluana ter sido obrigada a viver (ou a «vegetar»?) por mais de uma dezena de anos.
PINCHA:
A lei não permitia a sua morte.

CÃO: Quem faz as leis?
PINCHA:
Os legisladores e os governantes, geralmente eleitos pelo povo.

CÃO: Que os médicos sejam «obrigados» a manter a pessoa viva e de boa saúde, compreende-se perfeitamente, mas «obrigar» os médicos a manter uma pessoa a vegetar a vida inteira contra a vontade do próprio é inadmissível.
PINCHA:
Também não compreendo isso porque em qualquer intervenção cirúrgica os «doentes» ou «utentes» são obrigados a assinar um termo declarando que conhecem os riscos da intervenção e que concordam com a mesma.

CÃO: No caso presente, parece a vida travar uma luta inglória com a morte. Parecem dois lutadores com capacidades desiguais, em que a Morte, mais forte, lança por terra a Vida e a humilha permanentemente, deixando-a rojar pelo chão sem qualquer hipótese de sair dessa situação indesejável, aflitiva e vergonhosa. Os espectadores aplaudem esta luta desigual sem admitir que a Morte possa ter o seu epílogo. Lembra-me as lutas dos gladiadores. E com as feras como seria?
PINCHA:
Mas lembra-te também que tens o Papa a clamar pela não-eutanásia.

CÃO: Sim. Tenho tanta pena que alguns desses defensores da não-eutanásia, embora consciente, voluntária, justa, aceitável e «vantajosa» para o próprio, não fiquem num estado semelhante para serem obrigados a continuar a «vegetar» como aconteceu com tantos.
PINCHA:
E agora, a crise política na Itália envolve o Primeiro-Ministro, quase «contra» o Supremo Tribunal de Justiça!

CÃO: Esses «manda-chuvas» políticos, religiosos ou quaisquer outros, parece que só sabem dizer e fazer disparates, de vez em quando e nas piores ocasiões.
PINCHA:
Estás a fazer-me lembrar «Os Casamentos dos Sarilhos» (21JAN09) do Cardeal Patriarca de Lisboa.

CÃO: O que te posso dizer é que no reino animal não existem incongruências desse tipo a não ser as óbvias e «naturais». A Morte e a Vida são factores que têm a sua intervenção no momento oportuno. O que temos de fazer é viver bem, tanto quanto possível, com as leis da Natureza e de acordo com a satisfação que ela nos proporciona. Quando existem situações contrárias, temos de nos defender delas mas não necessitamos enfrentar as «manhas» dos restantes elementos.
PINCHA:
De facto, vocês têm uma vida mais concordante com a Natureza e sem as ambições, competição desenfreada, ganância, etc. tudo criado pelo género humano.

CÃO: Quando é que vocês começam a viver e a desfrutar a vida como nós?
PINCHA:
Quando a nossa civilização, que ficou insatisfeita com a vida tribal que antigamente levava, for capaz de se readaptar às normas antigas utilizando as novas tecnologias e economias de que dispõe e que poderiam ser favoráveis para todos.

CÃO: E se houvesse uma melhor distribuição de riqueza e benesses!
PINCHA:
Sim. Para tanto é necessário eliminar a inveja, a ganância e a sede de poder. Isso tem de começar pela educação que vocês também têm mas que no género humano é um pouco mais «intelectual» e «ética», portanto, mais complicada.

CÃO: Já que não fazem muita coisa que devem, mas fazem muitíssimo daquilo que não devem, pelo menos podem deixar que as pessoas vivam e morram conforme as leis da Natureza.
PINCHA:
Tens razão. Pelo menos podem deixar cada um, de acordo com a sua vontade, morrer em paz.

1 comentário:

Anónimo disse...

Acabo de ver o seu post, por mero acaso.
Já leu o livro «Derradeira Solução», de Derek Humphry?